quinta-feira, 1 de abril de 2010

Procissão do Encontro (31/03/10)







Infelizmente choveu e a procissão do encontro, tão esperada em nossa paróquia, precisou ser adaptada para ser celebrada dentro da igreja. Mesmo assim foi um momento rico de espiritualidade. Ana Maria Scarabelli dinamizou toda a oração e frei Marcos fez uma pequena reflexão quase no fim da celebração. Vamos lembrar suas palavras:
A procissão do encontro que estamos celebrando nos leva à seguinte pergunta: O que é que eu estou procurando em minha vida? O que é que, de fato, estou querendo encontrar nesta minha existência?
Como dizia uma antiga canção italiana: “”Tem gente que deseja mil coisas: Todo bem e o todo o mal do mundo”
Afinal de contas, o que eu quero encontrar? Quem eu quero encontrar?
Muitas pessoas acham que serão felizes quando encontrarem alguém. E neste alguém depositam todas as suas esperanças. Procuram , procuram e (querem saber?) nunca encontrarão. A felicidade não está fora de nós. Não é o outro que me fará feliz. Eu devo buscar em mim mesmo a motivação para ser feliz e nunca delegar ou alienar minha felicidade a outros porque eu corro um sério risco de viver mendigando a atenção, o afeto alheio, quando na verdade aquilo que eu busco fora está dentro de mim...
O maior encontro que eu realizo na minha existência não se dá externamente, mas internamente, no silêncio do meu coração.
É lá onde eu me encontro. É lá que eu devo me encontrar comigo mesmo. Mas este encontro comigo é algo que me desestrutura, me esfrega na cara meus defeitos, minhas vergonhas, meus medos e fantasmas.
E por isso mesmo este encontro é libertador e na medida em que me liberto, vou conquistando a minha felicidade. O ser humano só é feliz quando é livre! Este processo de autodescoberta, de autoconhecimento e encontro consigo é , além de ser muitas vezes um processo doloroso, também muito demorado: na maioria das vezes dura a vida toda.
E quando eu me encontrar com a minha verdade, sem máscaras, sem artifícios, sem disfarces... então eu me encontrarei com Deus.
O que é que eu estou querendo encontrar?
E por falar em encontro com Deus, como tem sido os meus encontros com Ele? Claro que eu rezo, vou à missa, cumpro os preceitos prescritos pela Igreja... Mas eu estou falando de encontro e não necessariamente de preces, orações, ritos. Tem gente que vive dentro da igreja, vive rezando o terço, mas ainda não se encontrou com Deus porque tem uma dificuldade imensa de perdoar, de se doar sem receber nada em troca, de fazer as coisas apenas por amor... Nunca encontrou Deus quem não sabe ser assim. Como pode ter encontrado a Deus quem não sabe ser afável, generoso, magnânimo? São João da Cruz dizia “a alma enamorada é suave e mansa”. Quem se apaixona por Deus é transformado de tal maneira que já não é mais o mesmo, mas fica com o coração marcado para sempre com os sinais da mansidão do Espírito: gentileza, doçura, compaixão.

Outra questão muito importante é que vivemos num mundo em que a velocidade parece ser uma virtude em si mesma. Tudo tem que ser rápido, breve, como os comerciais de televisão em que o garoto propaganda fala freneticamente, a comida que tem que ser engolida rapidamente para depois voltarmos a trabalhar, o prazo de entrega das encomendas, a correria dos horários das escolas, bancos, empresas... Não temos paciência para nada. Tempo é um bem que não temos. Não temos tempo nem para Deus. Deus que nos perdoe, mas temos coisas mais interessantes a fazer do que ficar rezando, rezando... Depois eu dou uma esmola mais generosa para um mendigo e estou quite com Deus. E assim vou adiando o meu encontro com Ele. Quem sabe vamos nos encontrar quando eu ficar gravemente enfermo, quando eu perder alguém que amo, quando estiver num beco sem saída... então nosso encontro será inevitável.

No fundo todos nós sabemos que a nossa felicidade depende dos nossos encontros: encontro com os outros, com Deus e o nosso próprio encontro. Mas é incrível como vivemos nos desencontrando. Encontro significa compromisso e essa palavra (“compromisso”) parece causar alergia em muita gente. São poucos os que se comprometem porque isso exige renúncia, sacrifício das minhas coisas, do meu tempo, das minhas idéias. Melhor viver sozinho e os outros que se adaptem a mim. Encontro significa olhar no olho do outro e se ver refletido nele, nas suas misérias, nos seus dramas, nas alegrias, nas suas lutas, pois somos feitos da mesmíssima matéria, mas a gente prefere pensar que somos de ouro e o outro é de barro.

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